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Muitas características que marcaram a prática de elite na esfera esportiva, em São Paulo, também foram próprias do futebol informal, 6️⃣ varzeano ou dos arrabaldes, como se designava na época, início do século XX.

A mesma paixão, a mesma febre são exemplos 6️⃣ dessa identidade entre uma prática e outra.

Essas práticas, certamente, não estiveram absolutamente isoladas.

Evidentemente, não eram pequenas as distâncias.

A prática do 6️⃣ futebol encontrou amplos espaços na sociedade paulistana.

Escolas, empresas, organizações religiosas e/ou culturais, entre tantas instituições, presenciavam o jogo de bola.

Todo 6️⃣ bairro da cidade possuía, ao menos, um clube/time e um campo.

Existiam muitos campeonatos por todo o espaço urbano.

Clubes e ligas 6️⃣ esportivas eram fundados com uma velocidade marcante.

De fato, a cidade começava respirar o futebol.

Esporte que, inicialmente, parecia que seria mais 6️⃣ um modismo do paulistano, acostumado a muitos.

Mas a relação da população com o "esporte bretão" revelou outra condição.

O futebol começou 6️⃣ a fazer parte do cotidiano.

A primeira observação a se fazer acerca dos clubes dedicados ao jogo da bola, fora das 6️⃣ entidades oficiais, é o seu número significativo.

Nas páginas dos periódicos, diariamente eram anunciados novos clubes, nos mais diferentes bairros da 6️⃣ cidade.

Por exemplo, tem-se A.A.Água Branca, C.A.

Paraíso, Perdizes F.C., entre inúmeros.

Já existiam, na década de 1910, em função da quantidade de 6️⃣ associações esportivas, as rivalidades dentro de cada bairro ou regiões da cidade.

No dia 29 de dezembro de 1914, um cronista 6️⃣ d'O Estado de São Paulo, apresenta um levantamento estatístico, certamente incompleto, sobre associações esportivas existentes na cidade.

O jornalista solicitou informações 6️⃣ acerca de cada clube, pedindo-se entre outros dados: nomes dos diretores, nome da associação, local da sede, número de sócios 6️⃣ e o gênero de esporte a que se dedicavam.

A seção Sport do periódico apresenta uma primeira lista, em que constam 6️⃣ os nomes de 136 associações esportivas, sendo a grande maioria da cidade de São Paulo e o restante referindo-se a 6️⃣ algumas cidades do interior do estado.

Segundo a LPF, existiam no estado de São Paulo aproximadamente 2 mil clubes praticantes de 6️⃣ futebol.

No mesmo O Estado de São Paulo, na edição de 29 de agosto de 1915, um domingo, anunciou 47 jogos 6️⃣ envolvendo 94 clubes, 188 times e 1 068 jogadores.

Estes dados dão a dimensão da dinâmica do futebol em São Paulo.

Como 6️⃣ o futebol oficial, também o informal foi objeto de notícia nos periódicos da época tratada.

Porém, sintomaticamente, essa prática esportiva só 6️⃣ recebeu destaque fora da seção de esportes.

A seção de alguns jornais, denominada Fatos Diversos, esboço de uma crônica policial, era 6️⃣ o espaço que o futebol varzeano ocupava.

Observe-se esta notícia, também publicada pelo O Estado de São Paulo, ainda em agosto 6️⃣ de 1915: "Um 'ground' em polvorosa - Na várzea do Carmo, dois 'times' anônimos de menores desocupados se empenharam ontem 6️⃣ às três e meia horas da tarde, num 'match' de 'futebol', com entusiasmo belicoso de dois cães na disputa de 6️⃣ um osso."

Nessa introdução aos acontecimentos, o jornalista propositalmente coloca o jargão próprio do futebol entre aspas, dizendo, de outra forma, 6️⃣ que campo, time, jogo ou futebol, são vagas lembranças do que se tinha entre as elites.

Portanto, campo era o Velódromo 6️⃣ ou o Parque Antártica; time, o C.A Paulistano, a A.A.

das Palmeiras e alguns mais; jogo, apenas os do campeonato da 6️⃣ Liga Paulista de Foot-ball (LPF); e, futebol, aquela prática oficializada e organizada pela entidade competente.

Por outro lado, menores que praticavam 6️⃣ uma forma de lazer num domingo à tarde são taxados de desocupados.

Os atletas dos clubes de elite, que treinavam nos 6️⃣ dias úteis, no meio da tarde, nunca foram denominados assim.

Além disso, a emoção própria da prática do futebol, tão decantada 6️⃣ nos jogos do Velódromo, aqui era percebida de forma preconceituosa.

A descrição, mais parecida com um julgamento, continuava:

Uma multidão de menores 6️⃣ lota o 'ground', cheia de curiosidade, e de remendo nas calças, e o próprio transeunte desocupado parava para gozar do 6️⃣ espetáculo gratuito, porque os 'matchs' de "futebol" na várzea do Carmo tem sempre o que ver: não raro terminar indo 6️⃣ o 'time' vencido para o hospital e o vencedor para o xadrez.

Apesar de reconhecer uma razoável organização nos jogos da 6️⃣ várzea do Carmo, o redator d'O Estado de São Paulo nota que são poucos os jogos em que a violência 6️⃣ e a consequente presença da polícia não são fatos.

Ou seja, o citado espetáculo gratuito, para o cidadão que não queria 6️⃣ ou não podia pagar para assistir a uma partida no Velódromo, não era o jogo em si, mas a violência 6️⃣ premeditada.

E a matéria continuava:

Ao começar o segundo tempo, que foi um tempo quente, o povo interviu de novo, manifestando-se furiosamente 6️⃣ contra o juiz de linha Carlos Grumberg que não deu sinal de "off-side", em certa ocasião em que a bola 6️⃣ saiu do campo.

O que sucedeu foi um dos "halves-back" "shootar" a bola para dentro do "goal" do adversário.

A assistência que 6️⃣ não pagou ingresso e não foi convidada, protestou energicamente, invadindo o campo.

Essa prática de o público intervir num jogo, naquela 6️⃣ época, era corriqueira, mesmo em se tratando do futebol oficial.

São inúmeras as descrições de jogos em que ocorrem as invasões 6️⃣ no campo de jogo.

Ou ainda, são constantes as manifestações do público contra as decisões do juiz.

Não faltavam palavrões, vaias e 6️⃣ agressões físicas.

O público torcedor, naquela tarde de domingo na várzea do Carmo, apenas radicalizou atos que ocorriam por todos os 6️⃣ outros campos de São Paulo.

E, após a invasão do campo,

Um indivíduo de fraque e chapéu duro, com ares de chefe 6️⃣ de família, saiu fora do sério, chegou mesmo a querer dar guarda-chuvadas no juiz de linha.

Este, irritado, colérico, congestionado, avançou 6️⃣ para os invasores do 'ground' e, com o pau da própria bandeira que empunhava, deu bordoadas às tantas.

Daí a instantes 6️⃣ trilavam os apitos de socorro e a debandada começou.

Mais uma vez a emoção foi colocada como algo que transforma as 6️⃣ pessoas.

Uma paixão incontrolável.

Exatamente o contrário do que deveria ocorrer, ao menos no entender das elites paulistanas, que se apresentavam como 6️⃣ as donas do futebol em São Paulo.

A rivalidade e a disputa eram reconhecidas como importantes valores, mas sempre limitadas e 6️⃣ controladas.

Não é à toa que no Velódromo, junto à arquibancada, existia um cartaz com os seguintes dizeres: "É proibido vaiar.

" 6️⃣ Fotos da época possibilitaram esta constatação.

E o evento da várzea do Carmo continuava:

Quando a polícia apareceu encontrou apenas o juiz 6️⃣ de linha, a bola e o popular Agostinho Ergiacia, morador à rua São Caetano, nº 150.

Agostinho estava ferido na perna 6️⃣ direita e foi socorrido no gabinete médico da Polícia Central.

Carlos Grumberg, o juiz de linha é alemão, tem 19 anos 6️⃣ de idade, é impressor e reside à rua da Cantareira, n° 14.

Esse jogo de futebol sem ligação com a prática 6️⃣ oficial terminou onde outros também terminavam: na polícia.

Isso não era regra, mas os periódicos da época davam destaque quando essas 6️⃣ violências ocorriam.

O futebol jogado fora das entidades oficiais era pouco noticiado, principalmente até 1913, a não ser quando era "caso 6️⃣ de polícia".

Vale destacar que, para o olhar da imprensa paulistana, um jogo de futebol entre populares geralmente terminava em violência 6️⃣ descabida.

No fundo esta imprensa tentava provar o quanto seria perniciosa a participação popular nos esportes.

Especificamente no futebol não seria saudável 6️⃣ a introdução dessa "massa popular", dado o seu descontrole emocional e a roleta dinheiro real falta de "educação", fosse social ou esportiva.

De 6️⃣ forma significativa, todos os relatos apresentados sobre o futebol jogado fora das entidades oficiais têm a massiva participação da classe 6️⃣ trabalhadora, envolvendo profissionais pouco considerados socialmente.

Além disso, todos esses jogos apresentados foram disputados em domingos, demonstrando o quanto o futebol 6️⃣ era uma importante forma de lazer dos trabalhadores da cidade.

Por outro lado, a prática do futebol informal também viveu outra 6️⃣ experiência com as autoridades policiais: quando perturbava a ordem pública e o sossego da população.

Não foram poucas as reclamações quanto 6️⃣ ao futebol atrapalhar moradores e transeuntes.

Nestas notícias, publicadas pelo O Comércio de São Paulo, um periódico que buscava se distanciar 6️⃣ do elitismo, fica clara essa questão:

Jogo de futebol em plena via pública A rua Vasco da Gama está transformada há 6️⃣ muitos dias num verdadeiro campo de futebol, onde um grupo de menores vagabundos se diverte atirando pelos ares uma enorme 6️⃣ bola, pondo assim, em sérios riscos as vidraças das casas vizinhas.

Como se só isso não bastasse, os incorrigíveis menores proferem 6️⃣ palavras obscenas em voz alta.

Mais uma vez chamamos a atenção do dr.

Mascarenhas Neves, quinto delegado, para a falta de policiamento 6️⃣ da rua Vasco da Gama, falta esta que é sem dúvida a causa dos fatos que ali se praticam.

(12 de 6️⃣ junho de 1914.

) [.

] A rua 7 de Abril, principalmente no trecho compreendido entre a rua Dom José de Barros 6️⃣ e a praça da República, está transformada em campo de futebol.

(28 de junho de 1914.)

Tem-se mostra, assim, de que a 6️⃣ prática do futebol generalizou-se pela cidade.

Todo terreno vazio era passível de se transformar num improvisado campo para aquela prática esportiva.

E 6️⃣ quanto mais improvisado, maior a probabilidade da presença policial, praticando o controle social.

Enfim, o futebol informal, para as autoridades municipais, 6️⃣ ou era marcado pela violência ou pela desordem que causava no espaço público.

Então, os espaços oficial e socialmente designados para 6️⃣ a prática do futebol seriam desprovidos de violência e de pouca educação do paulistano comum? Alguns relatos não transmitem essa 6️⃣ ideia.

Ao contrário, revelam torcedores que envergonham as "finas" famílias paulistanas com seus comportamentos inadequados.

Quando São Paulo recebeu a visita dos 6️⃣ jogadores ingleses do Corinthian Team, O Estado de São Paulo, em 3 de setembro de 1910, publicou essa descrição da 6️⃣ participação do público:

Há, porém, a acrescentar a esses dois grupos de espectadores, um outro de menores proporções, exposto por todo 6️⃣ o recinto.

É o mais terrível porque é o da crítica impiedosa, que tudo vê pela luneta do seu otimismo e 6️⃣ está pronta a cobrir de grosserias e impropérios aqueles que não souberem agradar às predileções da roleta dinheiro real visão [.

A assistência 6️⃣ mostrou-se desconsolada com o desfecho que as coisas vão tomando [.

] a qualquer lance favorável para os ingleses não se 6️⃣ contêm e gritam e assobiam e operam em desmancho de [.

] maneiras incompatíveis com gente de boa sociedade.

Em outro momento, 6️⃣ em 18 de agosto do mesmo ano, ainda acerca da presença dos ingleses, as reclamações continuaram: "Portanto não se pode 6️⃣ culpar o público paulista, em que predominam os melhores elementos da roleta dinheiro real sociedade, pelos inconvenientes originados por algumas dezenas de 6️⃣ indivíduos pouco educados e quiçá analfabetos."

Esses indivíduos que se comportam de maneira inadequada nas praças esportivas, segundo avaliação da imprensa 6️⃣ elitista de São Paulo, nunca fazem parte do que "há de melhor" na sociedade paulistana e sempre são minorias.

E o 6️⃣ periódico O Estado de São Paulo não revelou onde se localizavam, dentro do Velódromo, esses torcedores "mal-educados", inclusive chegou a 6️⃣ afirmar que eram indivíduos presentes por toda a plateia.

Porém, em outros momentos, os jornais não eram tão implícitos e acusavam 6️⃣ a desordem vinda das gerais, onde o público pagava menos para assistir a um jogo.

Tem-se assim, segundo a imprensa, a 6️⃣ população que não sabia se portar nas próprias competições, nem nos jogos oficiais das entidades esportivas.

Em outras palavras, aqueles indivíduos, 6️⃣ violentos e mal-educados jamais poderiam participar de um campeonato oficial no Velódromo, espaço de senhores "finos" e senhoras e senhoritas 6️⃣ elegantes e chiques, além de famílias comportadas.

A junção povo-elite, no futebol, mostrava-se difícil.

Por isso é que a imprensa lamentava tanto, 6️⃣ em 1913, a ausência do "belo sexo" nas partidas de futebol.

Nesta notícia, de 14 de maio, publicada n'O Comércio de 6️⃣ São Paulo, esse assunto foi abordado da seguinte maneira: "Futebol - Apea -É deveras desoladora a ausência das gentis senhoritas 6️⃣ e distintas senhoras nos meetings esportivos que ultimamente se realizam nesta capital!"

Clubes e times espalham-se por São Paulo

É importante ressaltar 6️⃣ que a prática do futebol marcava grande parte da população paulistana.

Era quase regra que todas as associações existentes na cidade, 6️⃣ de uma forma ou de outra, praticassem o chamado "violento esporte bretão".

Para se ter uma dimensão do significado desse esporte, 6️⃣ no início da década de 1910, basta enumerar todas as entidades organizadoras do futebol na cidade, Essas entidades, desvinculadas das 6️⃣ oficiais, passavam de dez.

Entre outras ligas, vinculadas às entidades oficiais, a LPF e a Apea, encontravam-se a Liga Ginasial, a 6️⃣ Liga Infantil do Futebol, com a participação das escolas Anglo-Brasileira, Macedo Soares e outras; a Associação Acadêmica de Esportes Atléticos 6️⃣ e a Liga Acadêmica de Futebol, essas duas últimas formadas por escolas superiores.

Existiam também as inúmeras ligas de futebol espalhadas 6️⃣ por todo o interior de São Paulo, que mantinham um significativo intercâmbio com a capital.

Já estavam se tornando regra os 6️⃣ clubes formados a partir de empresas, fábricas ou especialidade profissional.

Assim, podia-se ler esta notícia nos periódicos da época tratada: "C.A.

Piratininga 6️⃣ - Alguns funcionários da São Paulo Railway resolveram reorganizar o C.A.

Piratininga, que há tempos se dissolvera, por motivos de força 6️⃣ maior.

", conforme se lê nos jornais de julho de 1911.

Surgiram também clubes e times ligados a atividades profissionais específicas, como 6️⃣ a de trabalhadores em comércio, ligados aos gráficos, como o F.C.

União Gráfica e o Guttemberg F.C.

As inúmeras associações culturais formadas 6️⃣ na capital paulista também enveredaram para a prática do futebol.

Sem abandonar seus objetivos iniciais, organizaram times de futebol.

Note-se esta pequena 6️⃣ nota, de abril de 1914: "Taborda Sport Club - Está convocando uma assembleia geral dos sócios do Centro Dramático e 6️⃣ Recreativo Taborda, para o dia 16 do corrente.

Essa reunião tem por fim tratar da criação de alguns times de futebol, 6️⃣ anexos à associação."

A partir desses dados é possível afirmar que os times de futebol formados por essas entidades culturais estavam 6️⃣ preocupados em dar aos seus associados a possibilidade de uma prática esportiva, no caso o futebol, talvez por ser o 6️⃣ esporte mais importante da época.

Nem os clubes carnavalescos, que tinham suas atividades concentradas no Carnaval, fugiram à regra: organizaram também 6️⃣ suas equipes de futebol.

Observe-se esta notícia, presente no Correio Paulistano de 2 de julho de 1911.

: "Sport - Um grupo 6️⃣ de associados do clube carnavalesco Tá Bom, Deixe jogará hoje, às oito horas da manhã, no campo existente no extremo 6️⃣ da rua Solon, um match-training entre os partidos vermelho e azul da seção esportiva desta sociedade.

Da mesma forma, os clubes 6️⃣ que se formavam apenas para a prática do futebol, também passaram a ter preocupações culturais, além de outras formas de 6️⃣ lazer.

Por outro lado, como já era próprio dos clubes ligados ao futebol oficial em São Paulo, também aqueles dos arrabaldes 6️⃣ promoviam um forte intercâmbio com associações esportivas do interior do estado.

Se no começo dos anos 1910 se tem poucas notícias 6️⃣ acerca desse intercâmbio, o passar dos anos faz com que notícias se multipliquem anunciando jogos em Jundiaí, Pindamonhangaba, Campinas, São 6️⃣ Carlos, entre outras cidades servidas pelo transporte ferroviário.

Notas nos periódicos, em novembro de 1911, confirmam esse intercâmbio:

Sport - Conforme noticiamos, 6️⃣ os rapazes do Concórdia Futebol Clube irão hoje a Jundiaí disputar um match de futebol com um clube daquela localidade.

Match 6️⃣ de futebol - Segue hoje para Pindamonhangaba o primeiro time do São Paulo Railway Futebol Clube, que vai disputar um 6️⃣ match de futebol com o Brasil Futebol Clube daquela cidade.

E a visita de um clube da capital, no interior paulista, 6️⃣ era motivo de festas intermináveis.

Geralmente visitadas em domingos, as cidades viviam em função da equipe paulistana.

Recepção popular na estação ferroviária, 6️⃣ com direito à banda de música, visita às autoridades municipais, almoço festivo, o jogo em si e, finalmente, uma festiva 6️⃣ despedida na mesma estação.

Em alguns casos, havia outras atividades, como um banquete após o jogo.

Também ocorria a presença de clubes 6️⃣ do interior à capital, notadamente as associações esportivas campineiras.

Memorialistas do futebol não-oficial

É importante se perceber a prática informal a partir 6️⃣ de memorialistas.

Nota-se o quanto, realmente, o futebol fazia parte do cotidiano da cidade.

Mesmo Jorge Americano - muito ligado às elites 6️⃣ paulistanas -, cujas referências são, em grande parte, do futebol oficial, apresenta dados do que o jogo de bola significou 6️⃣ em uma cidade que se modificou bastante.

Eis algumas dessas referências, presente em São Paulo naquele tempo: "Um grupo dos maiores, 6️⃣ do 4º e 5º ano, saía à tarde, uma vez por semana, com seu Carvalho, professor do 5º ano e 6️⃣ organizador do batalhão.

Iam jogar um novo jogo de bola chamado foot ball, no descampado atrás da capela de Santa Cecília 6️⃣ e vizinho da chácara de d.Angélica."

Outro memorialista paulistano, Jacob Penteado, em Belenzinho, 1910, também apresenta referências acerca do futebol.

Trabalha com 6️⃣ informações que esclarecem muito a prática do futebol informal.

Quando morador do Brás, rememora que "aos domingos, uma vez por outra, 6️⃣ ia assistir a jogos de futebol, na várzea do Carmo, onde pululavam os campos para a prática desse popular esporte".

E 6️⃣ recupera a origem do termo "varzeano", afirmando que

"quando, então, a várzea foi aterrada, ao tempo dos prefeitos Antônio Prado e 6️⃣ Raimundo Duprat (1910 e 1911), os campos de futebol multiplicaram-se, aproveitando o terreno plano.

Como se tratava de associações não oficiais, 6️⃣ daí derivou o termo 'varzeano' e também o de 'clubes de várzea', para designar os praticantes do futebol fora da 6️⃣ liga principal."

E o trabalho de memória de Jacob Penteado continuava, citando os clubes que jogavam na várzea do Carmo, também 6️⃣ revelando que a rivalidade acirrada levou a muitos conflitos físicos.

Segundo o memorialista,

os papões da várzea eram o Argentino, na parte 6️⃣ do Glicério, onde tinham seus campos também o Eden Brasil, o Norte-Americano e o XI de Agosto.

Era seu rival o 6️⃣ Botafogo formado por jogadores do então novel Corinthians Paulista cujo campo ficava junto à rua Paula Souza.

Nesse trecho, jogavam ainda, 6️⃣ o Belo Horizonte e o Cruzeiro do Sul, constituídos por elementos da colônia síria.

Quando tais clubes jogavam entre si, a 6️⃣ pancadaria era, invariavelmente, o arremate final da competição.

Havia muitas cabeças rachadas e jogadores correndo pelas ruas adjacentes, ainda uniformizados.

Mais tarde, 6️⃣ surgiram, perto do Gasômetro, o Mancha de Sangue e o Roma, seguidos pelo Polignano a Mare, todos eles formados por 6️⃣ membros da colônia italiana.

Houve ainda, o Parnaíba e o Aliança, e outros que não cheguei a conhecer.

A partir desse depoimento, 6️⃣ é possível perceber a real importância que a várzea do Carmo, com seus inúmeros clubes e campos, exerceu no desenvolvimento 6️⃣ do futebol em São Paulo.

Quando morador no Belenzinho, Jacob Penteado também percebeu a formação e o desenvolvimento do futebol entre 6️⃣ os clubes varzeanos nessa parte da cidade.

Seu relato mostra que esse bairro produziu um dos times mais velhos da várzea, 6️⃣ o Estrela de Ouro, fundado em 1902, duas vezes campeão municipal entre os clubes não oficiais.

Tão importante quanto essas informações, 6️⃣ é o fato de o memorialista chamar a atenção para a forma como se praticava o futebol nos campos de 6️⃣ várzea.Diz ele:

Àquele tempo, esse esporte era, na realidade, jogo para machos, pois a violência imperava, predominando o fator físico, a 6️⃣ força bruta.

Para isso, mais que pela técnica, quase inexistente, os integrantes do "time" eram escolhidos pela robustez.

As charges no goleiro 6️⃣ também eram permitidas.

Por ocasião dos escanteios (então corners), investiam quatro ou cinco jogadores, de pés levantados, de sola e até 6️⃣ de soco, para cima do arqueiro (chamava-se "gorquipe", corruptela de goal-keeper), que ia para o fundo da rede (quando as 6️⃣ havia), fortemente contundido [.

Os zagueiros chamavam-se "fulbeques" ou beques (full-back).

Sua tática era esta: beque que avança, que acossava os avantes 6️⃣ adversários, e beque que espera, que limpava a área.

Geralmente este, possuidor de forte chute (shoot), fazia a torcida delirar quando 6️⃣ a bola atravessava o campo ou subia que nem um balão.

No decorrer do seu relato, o memorialista mostra como havia 6️⃣ contato entre o futebol varzeano e o das elites, quando afirma que "um dia apareceu [no Belenzinho] um quadro da 6️⃣ cidade, enxertado de vários jogadores da liga oficial.

Vinham para ganhar a goleada, mas o capitão do Estrela, Ernesto Sertório, perdeu 6️⃣ a cabeça e meteu o braço no famoso Hermann Friese, um dos maiores craques da época.

O homem reagiu e o 6️⃣ conflito generalizou-se".

Inclusive, ainda segundo Jacob Penteado, "naquele tempo, muitos futebolistas jogavam armados.

Usavam uma faixa bem larga, na cintura, e nela 6️⃣ ocultavam armas, para a hora de 'balançar a roseira'.

Os próprios juízes atuavam armados, pois eram constantemente vítimas de agressões".

Outro aspecto 6️⃣ importante abordado por Jacob Penteado é o da rivalidade que vai se constituir entre clubes do mesmo bairro.

O já citado 6️⃣ Estrela tinha como grande rival o União Belém.

Eles "evitavam-se, mas, quando se enfrentavam, o Belenzinho ficava em polvorosa".

Também é relevante 6️⃣ o fato de que alguns clubes eram formados por afinidades profissionais, como o União Operária, formado por carroceiros, oleiros e 6️⃣ barqueiros.

Ou formados, ainda, por nacionalidades, como o XX de Setembro, de italianos da Toscana.

Tem-se, inclusive, o misto dos dois: o 6️⃣ Portugal Marinhense, formado por portugueses vidreiros.

O trabalho de Ecléa Bosi, Memória e sociedade, recolhendo memórias de velhos que viveram a 6️⃣ partir do início do século XX, em São Paulo, ajuda a reconstruir o que foi o lazer e a prática 6️⃣ informal do futebol.

Nas "lembranças do sr.

Amadeu", nascido no Brás em 1906 e descendente de italianos, tendo o pai alfaiate e 6️⃣ a mãe costureira, este recorda-se de roleta dinheiro real infância, em que

"A rua não tinha calçada.

Elas ficavam à vontade naquelas ruas antigas.

Eram 6️⃣ ruas de lazer, porque não tinham movimento, e criança tinha demais.

Em São Paulo, nos terrenos baldios grandes, sempre se faziam 6️⃣ parques para a meninada.

Meus irmãos jogavam juntos futebol na rua.

Tínhamos um clube, formado por nós, chamado Celso Garcia".O sr.

Amadeu também 6️⃣ se lembra de que a região do parque Dom Pedro II foi a várzea do Carmo, espaço privilegiado para a 6️⃣ prática do futebol no início daquele século.Diz o sr.

Amadeu que "antes, o lugar era nosso campo de futebol, de um 6️⃣ clube chamado Torino".

O relato torna-se importante quando o sr.

Amadeu se lembra especificamente do futebol.

De forma significativa ele dimensiona, a seu 6️⃣ modo, o que foi esse esporte varzeano, além de revelar fatos que foram sedimentados na memória esportiva popular.

Assim narra o 6️⃣ futebol informal no seu tempo:

Comecei a jogar futebol com nove anos.

Naquele tempo tinha mais de mil campos de várzea.

Na Vila 6️⃣ Maria, no Canindé, na várzea do Glicério, cada um tinha mais ou menos cinquenta campos de futebol.

Penha, pode pôr cinquenta 6️⃣ campos, Barra Funda, Lapa, entre vinte e 25 campos.

] Se nós vamos procurar na memória quantos jogadores da várzea 6️⃣ [.

] tinha mais de 10 mil jogadores.

Aquele tempo era uma coisa!.

Em cada bairro se fazia um campeonato.

Esse relato torna-se 6️⃣ ainda mais relevante, pois também não constrói uma rígida separação entre o futebol informal e o oficial.Para o sr.

Amadeu, o 6️⃣ divisor de águas no processo no qual os campos de várzea vão desaparecendo encontra-se no crescimento da cidade e na 6️⃣ construção de grandes estádios de futebol, como o Pacaembu, inaugurado em 1940.

Por isso, "o futebol já não é mais o 6️⃣ que foi para o meu povo".

E quanto ao futebol oficial, quando foi possível separá-lo do informal, o sr.

Amadeu não titubeia 6️⃣ ao afirmar que "havia o Botafogo da rua Paula Souza, que é o Corinthians de hoje [.

] [no Corinthians] estava 6️⃣ a massa: os pretos e os espanhóis [.

Não tinha preto naquele tempo no Palestra [.

Naquele tempo o Paulistano era o 6️⃣ clube da elite".

Até a primeira década deste século, a contribuição dos chamados historiadores e memorialistas do futebol na questão da 6️⃣ prática informal é pequena.

A preocupação desses autores recai sobre o futebol oficial.

Mas como essas práticas, em alguns momentos se confundiram, 6️⃣ a várzea tornou-se, mesmo de forma indireta, objeto de estudo.

Em uma biografia de Arthur Friedenreich, por exemplo, o autor constrói 6️⃣ uma análise para explicar por que esse jogador se destacou tanto dos demais.

Para João Máximo, apesar de o futebol no 6️⃣ início do século XX ser fortemente elitizado e apenas os "rapazes endinheirados" poderem praticá-lo de forma organizada, existia também o 6️⃣ futebol de várzea, praticado pelos mais pobres.

E Arthur Friedenreich foi uma espécie de síntese disso tudo.

Foi um pouco de elite, 6️⃣ foi um pouco de várzea e, ainda, um pouco de preto.

Era filho de alemão remediado com paulista pobre, de pele 6️⃣ escura; viveu quase toda a infância entre os meninos de rua e estudou nos melhores colégios de São Paulo, inclusive 6️⃣ no Mackenzie; veio do mundo nada aristocrático do bairro da Luz e muito cedo entrou para o Germânia, clube elegante 6️⃣ da colônia alemã.

Enfim, a gênese do poderio futebolístico brasileiro e do próprio Friedenreich encontrar-se-ia, em parte, na conjugação perfeita do 6️⃣ que foi o jogador conhecido como El Tigre.

Para Thomaz Mazzoni, no clássico História do futebol no Brasil: 1894-1945, considera que

O 6️⃣ pequeno futebol, os clubes de bairros nasceram quase ao mesmo tempo do chamado futebol da Chácara dos Ingleses, do Velódromo 6️⃣ e do Parque Antártica, onde começaram a tomar impulso os clubes principais.

A semente da popularidade futebolística brotou logo prodigiosamente.

O exemplo 6️⃣ dos estudantes e moços ricos do Mackenzie, Paulistano etc.

, não deixou indiferentes os rapazes operários dos bairros e daí surgiram 6️⃣ pequenos clubes em pouco tempo.

Mas, os seus primeiros tempos foram destruídos pela poeira do esquecimento.

Pequenina, aliás, foi essa árvore até, 6️⃣ mais ou menos 1908.

Foi então que se impôs a várzea.

Sim, a verdadeira história do nosso futebol dos bairros nasceu quando 6️⃣ os clubes acabaram se agrupando na Várzea, dando uma feição de campeonato aos seus encontros domingueiros [.

] no Carmo, o 6️⃣ futebol dos bairros passou a se desenvolver em todo e qualquer terreno desigual que apareceu na capital.

Infelizmente, é generalizada essa 6️⃣ análise.

Apesar de real, dificilmente se têm maiores informações do que foi a várzea em São Paulo nas duas primeiras décadas 6️⃣ do século passado.

A partir das características do futebol informal e do oficial na cidade de São Paulo até meados da 6️⃣ década de 1910, é possível se perceber a febre esportiva que a capital paulista viveu.

O futebol tornou-se uma importante forma 6️⃣ de lazer, marcada por fortes sinais de paixão e emoção.

Se o elitismo das entidades oficiais era fato nesse momento, a 6️⃣ prática do futebol não deixou de ser acessível a amplas parcelas da população, que iam ocupando os inúmeros terrenos vazios 6️⃣ da cidade.

Por outro lado, o futebol, seja oficial ou varzeano, ainda carecia de uma organização mais rígida.

A marca do amadorismo 6️⃣ e do semiprofissionalismo estavam presentes nesse esporte já tão popular.

E, fundamentalmente, tem-se, a partir do início da década de 1910, 6️⃣ uma pressão sobre as entidades oficiais, que insistem em manter isolados milhares de jogadores e algumas centenas de clubes que 6️⃣ se espalhavam pela cidade.

Ter-se-á tanto acesso de clubes "menores" nas entidades antes elitizadas, quanto dos clubes de elite, que passam 6️⃣ a aceitar jogadores vindos das classes populares.

Mas essas transformações foram lentas e não ocorreram sem a presença de conflitos e 6️⃣ contradições.

Por fim, ressalte-se que o fato de a população estar presente nas entidades oficiais, com seus jogadores e clubes, não 6️⃣ significou uma popularização radical do esporte bretão.

A organização do futebol nunca esteve nas mãos do povo.

É por isso que esse 6️⃣ esporte perdeu um ranço elitista, mas continuou desvinculado dos reais interesses populares.

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Plinio Labriola Negreiros Professor de História Estudo a História do Corinthians Paulista e do Futebol Professor 6️⃣ de História Estudo a História do Corinthians Paulista e do Futebol

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Conclusão